Arquiconfraria das Chagas e Cordão de São Francisco
Arquiconfraria das Chagas e Cordão de São Francisco, Nossa Senhora da Luz, Santo Nome de Jesus, São Miguel e Almas
O Convento de São Francisco da Cidade foi fundado em 1217
por Frei Zacarias, frade franciscano vindo de Assis, na
companhia de Frei Gualter (Santo que seria o fundador do
convento franciscano de Guimarães). Erguido no Monte
Fragoso, junto da primitiva Igreja de Nossa Senhora do
Mártires, (que antes do terramoto se encontrava no local onde hoje está o prédio que fica entre a Rua Serpa Pinto, Largo da
Academia Nacional de Belas Artes e Calçada do Ferragial),
edifício formado por igreja, convento, hospital, albergaria
oficinas cresceu de tal forma, que o povo lhe chamava "Cidade
de São Francisco", advindo-lhe daí o nome de Convento de São
Francisco da Cidade. A igreja possuía inúmeras capelas, cada
qual administrada por sua respetiva Irmandade ou Confraria.
Uma dessas Confrarias era a do Seráfico Padre São Francisco e
das suas Chagas que se unira à Confraria do Cordão do mesmo
Santo. Primitivamente tinha a sua sede numa das capelas do
cruzeiro, no entanto, como o número dos seus membros
aumentara enormemente, decidiram fazer um acordo com os
frades para que lhes fosse cedido o Altar-Mor, para as suas
devoções. Os frades aceitaram, e por escritura lavrada a 18 de
Maio de 1588, esta Confraria ficou com a posse do referido
Altar-Mor, sendo por isso obrigada, daí em diante, a custear
todas as obras do mesmo, a tratar da sua limpeza, assim como da
decoração, nas festas mais especiais (festa de São Francisco,
festa do Cordão e Quinta Feira de "Endoenças"). Para além
destes encargos, ficaram obrigados a pagar também, a expensas
suas, a folha de ouro para o retábulo, havendo ainda uma nota
referindo que caso o altar caísse ou ardesse, também a
Irmandade seria responsável pela sua reedificação (3). Se a
Confraria aceitou todas estas cláusulas, isso só mostra quão
grande seria o seu património e poder monetário, pois vários
foram os desastres que este convento padeceu.
Com o passar dos anos várias Irmandades do Convento de São Francisco da Cidade se anexariam a ela: em 1762 Irmandade de Nossa Senhora da Luz e Santo Nome de Jesus e
um ano depois a de São Miguel e Almas faria o mesmo dando
assim origem à Arquiconfraria.
Incêndios e mais incêndios, terramoto de 1755 seguido de
novo incêndio, invasões francesas, e chegados a 1834 as ordens
são extintas e o convento fechado. Posta na rua, a Arquiconfraria
teve os seus bens guardados numa casa de habitação (pela qual
pagava uma renda mensal) até ao ano de 1838 (3). Havendo o
desejo e necessidade de ter espaço próprio para as suas devoções
e actos de culto, pediram à Irmandade de Nossa Senhora da
Ajuda sita na Capela dos Fiéis de Deus, para serem acolhidos no
seu templo. A Irmandade concordou, e a 8 de Novembro de 1838
foi feito o pedido de autorização ao Administrador Geral do
Distrito de Lisboa, que o permitiu também. Assim, esta
Arquiconfraria entraria solenemente na Capela a 25 de
Dezembro de 1838. No ano seguinte seria construído o altar
onde permanentemente ficariam colocadas as imagens que
representam a Estigmatização de São Francisco (Cristo alado e
São Francisco). Chegados a 1868, nova mudança, mas esta
momentânea... a Capela entra em obras e a Irmandade tem que
sair. Feitas as diligências necessárias, foi escolhida a Capela de
Nossa Senhora da Conceição à Esperança, onde permaneceria
até 1872. Nesse ano a Arquiconfraria informa que o Lausperene
que lhes correspondia na Capela Particular do Colégio de Nossa
Senhora da Conceição, à Esperança, nos dias 25, 26 e 27 de
Setembro, seria já nos Fiéis de Deus. Com o passar dos anos a Arquiconfraria entraria numa lenta agonia... o número de irmãos
diminuíra bastante, o culto ao Cordão de São Francisco já não
atraía multidões, e o valor das esmolas e cotas era cada vez
Arquiconfraria
menor. Assim, a 11 de Dezembro de 1885,
para a
anexou-se à Irmandade de Nossa Senhora da Ajuda e dos Santos
Fiéis de Deus, tendo todos os seus bens e arquivo passado
sua posse.
in Capelas e Ermidas da Cidade de Lisboa, de Alexandre Roque