Arquiconfraria do Senhor do Patrocínio

A Paróquia de Nossa Senhora das Mercês foi criada em 1622, no entanto, como não tinha sede, esteve instalada dois anos na Ermida da Ascenção de Cristo, na Calçada do Combro. Em 1624, a Igreja de Nossa Senhora das Mercês estava concluída e situava-se junto da antiga Rua Formosa (actual Rua de 0 Século). Em 1632, Paulo de Carvalho (tio do primeiro Marquès de Pombal) estabelece nela um Morgado, ficando os seus descendentes como proprietários. Em 1755 a igreja ficaria bastante arruinada, e a sede da Paróquia voltaria novamente para a ermida da Ascenção de Cristo. Findas as obras de recuperação a Paróquia regressou à Igreja das Mercês onde permaneceria até 1835, ano em que passaria para a igreja do Convento de Jesus, onde se encontra até hoje. A primitiva igreja das Mercês, estaria aberta ao culto até aos inícios do séc XX, sendo depois vendida, e posteriormente transformada em armazém de ferros, esquadra da PSP, e hoje um hostel. A Arquiconfraria do Senhor Jesus do Patrocínio foi fundada no séc. XIX, no início alcançaria grande interesse da população, mas com a mudança das mentalidades e dos regimes, não duraria sequer 100 anos... A 10 de Fevereiro de 1856, na Mouraria, enquanto descansava na camarata da Guarda Municipal (futura GNR), o Cabo João Maria de Sousa foi inspirado divinamente de que na Igreja das Mercês existiria uma imagem de Cristo, preso à coluna, e que se lhe deveria criar uma Irmandade e um "Montepio" para assistência aos mais pobres. Como essa ideia não o deixou dormir em toda a noite, no dia seguinte contou o sucedido a dois amigos, também militares, decidindo todos que o melhor seria averiguar a veracidade da existência da referida imagem. Chegados à freguesia das Mercês, procuraram a pessoa mais velha da freguesia, para a questionar acerca disto. Falando com o Juiz eleito da freguesia, este informou-os que se recordava da existência de uma imagem do Senhor preso à coluna, na igreja das Mercês. Contou o referido Juiz que uns galegos moradores na Rua do Carvalho tinham encontrado uma imagem emparedada na sua casa. Como a partir daí o número de fiéis, devotos e curiosos que a procuravam era enorme, decidiram as autoridades que ela fosse levada para a igreja. O título de Senhor do Patrocínio tinha sido atribuído por um sacerdote, pois este, sendo acometido de um grave problema de saúde, se apegou a Ele, e lhe prometeu que se o salvasse, pregaria todos os anos na sua festa. Liberto do mal que o afligia, no primeiro sermão que lhe fez, a todos informou que só com o desta imagem de Cristo se poderia ter salvo, passando assim a chamar-se de "Senhor Jesus do Patrocínio". Terminada a conversa, os três militares dirigiram-se à Igreja das Mercês, mas logo perceberam que não existia qualquer imagem semelhante à que procuravam. Por essa altura, estavam lá uns pedreiros a tratar da obra que iria acolher os restos mortais de Sebastião José de Carvalho e Mello, Marquês de Pombal, que viriam da cidade de Pombal. Procurando nas dependências, encontraram numa arrecadação, uma imagem de Cristo preso à coluna, feito em sete bocados. Foram então falar com o Padre Raimundo dos Anjos Beirão, Missionário Apostólico, contando-lhe tudo o que se passara, e quais eram os seus ânseios em fundar uma Irmandade. O sacerdote mostrou-se muito interessado, e nesse mesmo ano se tratou da fundação da Arquiconfraria do Senhor Jesus do Patrocínio, sendo na sua maioria formada por elementos da antiga Guarda Municipal de Lisboa. O Marquês de Pombal, de então, também concordou com a ideia e permitiu que ela ficasse sediada na Igreja das Mercês (. Fundada em 1856, a Arquiconfraria do Senhor Jesus do Patrocínio teria os seus Compromissos aprovados nesse mesmo ano, sendo revistos e acrescentados em 25 de Novembro de 1859, e por última vez em 15 de Maio de 1880.

 Com o passar dos anos o número de Irmãos foi crescendo, aumentando consequentemente o património da Arquiconfraria. A imagem de Cristo chegou mesmo a ter um resplendor de prata e diamantes, bem como cintos bordados a ouro e prata. Em Abril de 1909 foi cedida à imagem uma túnica usada pelo Senhor dos Passos da Graça, oferecida pela Marquesa de Fronteira. Como em 1838 a sede da Paróquia das Mercês passara para a igreja do Convento de Jesus, a primitiva igreja das Mercês era agora uma simples capela privativa, onde os actos de culto estavam entregues a algumas Irmandades nela sediadas. Assim, a Arquiconfraria do Senhor do Patrocínio, sabendo do fecho dos mosteiros e conventos femininos que então se verificava, pediu alguns dos bens dessas casas religiosas, vindo a receber imagens e seus pertences. 

Em 1895, a Arquiconfraria iria procurar novo templo escolhendo para isso a igreja do antigo Convento dos Caetanos. 

No entanto, em 1911, o Estado informa que a igreja iria entrar em obras, sendo necessário que a Arquiconfraria procurasse novo espaço, enquanto elas durassem. Feitos os pedidos necessário, o local escolhido foi a Capela dos Fiéis de Deus, que ficava na mesma rua, e que todas as Sextas Feiras, há mais de doze anos, acolhia a imagem do Senhor do Patrocínio. Quanto aos Caetanos, nenhumas obras seriam feitas, e a igreja seria demolida em 1912, para aumentar o Conservatório de Música. Desta forma, os Fiéis de Deus seriam a última sede desta devoção, pois a 5 de Agosto de 1918, a Junta Grande da Arquiconfraria decide anexar-se à Irmandade de Nossa Senhora da Ajuda e Santos Fiéis de Deus, alegando a decadência advinda da falta de Irmãos e as enormes dificuldades económicas em que vivia, pedindo somente que se celebrasse o seu orago sempre que isso fosse possível. 

A Irmandade da Senhora da Ajuda iria receber assim todo o vasto espólio pertencente à Arquiconfraria do Senhor do Patrocínio, e tendo em conta o enorme número de Irmandades que nela se tinham incorporado, passou a partir desse ano a denominar-se: "Irmandade de Nossa Senhora da Ajuda, Santos Fiéis de Deus e Anexas", tal era a quantidade de invocações que numa só Irmandade se tinham agregado...

in Capelas e Ermidas da Cidade de Lisboa, de Alexandre Roque